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Um Gosto de Mel

de Shelagh Delaney

estreia em Coimbra, a 16 de Agosto de 2001

Pátio da Inquisição

total de espectáculos - 8 (Coimbra)
total de espectadores - 981

23ª produção - A Escola da Noite©Agosto2001


Ficha Técnica:
•••Encenação: Antônio Mercado.
•••Tradução: Antônio Mercado e Sílvia Brito.
•••Elenco:
•••••••••Lena > Sílvia Brito
•••••••••Jo > Maria João Robalo
•••••••••Peter > António Jorge
•••••••••Jimmie > José Évora
•••••••••Geof > Ricardo Miguel
•••Versão do texto e dispositivo cénico: Grupo de trabalho.
•••Iluminação e banda sonora:Antônio Mercado.
•••Figurinos: Ana Rosa Assunção.
•••Fotografia: Augusto Baptista.
•••Grafismo: Ana Rosa Assunção.
•••Operação de luz e som: Rui Lima.
•••Montagem: Alfredo Santos, Carlos Figueiredo e Armando Fernandes.
•••Divulgação: Isabel Campante.
•••Produção: Rui Valente e Pedro Rodrigues.
Um gosto de mel

Salford, 1958
Na Inglaterra, a euforia da vitória na Segunda Guerra Mundial teve uma duração curta. Só passados oito anos, em 1953, os ingleses se viram livres do racionamento dos bens essenciais e se alcançou alguma prosperidade em termos dos salários e da oferta de emprego. No entanto, nem toda a gente teve direito a essa tranquilidade relativa. Muitas áreas de Londres continuavam destruídas ou com a circulação condicionada pelas bombas não detonadas. Apartamentos sujos e degradados continuavam a albergar pessoas cujos recursos financeiros lhes permitiam pouco mais do que enfrentar um dia de cada vez.

Na verdade, os anos cinquenta foram um período de transição entre duas épocas. A imagem que nos fica do recém finado séc. XX só nesta altura começa a tomar forma, com a invenção da Segurança Social e o aparecimento dos programas espaciais americano e soviético, por um lado, mas também com a guerra fria, a ameaça nuclear, e a radicalização dos conflitos de gerações, por outro lado. Os valores e as referências tradicionais são postos em causa e, como sempre acontece nessas alturas, as pessoas começam a navegar à vista. A fasquia das ambições desce, e limita-se à sobrevivência do dia a dia, principalmente quando, como era o caso, os meios de subsistência não abundam. Mesmo quando havia dinheiro não deixava de haver crise de valores. Aos ingleses bastava a pequena vaidade de ter uma mobília melhor do que a do vizinho.

Curiosamente, ou talvez não, o teatro inglês parecia alheio a toda esta realidade. Os temas recorrentes continuavam a versar sobre a vida dos lordes e dos seus mordomos, nas suas majestosas mansões. Era uma questão de tempo até que alguém decidisse escrever uma coisa diferente. Em breve surgiria o chamado movimento dos angry young men. Com textos realistas, escritores como Shelagh Delaney ou John Osborne introduziram a tábua de passar a ferro e a pia de cozinha onde antes se encontravam a poltrona e os castiçais. Delaney, com o seu "A Taste of Honey" escrito aos 18 anos de idade, acabou por ser uma das precursoras desta espécie de revolta literária, que marcaria para sempre o panorama teatral londrino.

Coimbra, 2001
No percurso d'A Escola da Noite, "Um Gosto de Mel" surge, literalmente, por acidente. Por motivos de saúde de um dos nossos elementos, vimo-nos obrigados a interromper uma montagem que estava em curso e a iniciar outra, a partir do zero. Entre as várias alternativas que se colocaram na altura, porquê este texto? Em parte, seduziu-nos essa condição de texto-chave, quase fetiche, com lugar cativo na História do teatro contemporâneo. Mas também porque encontrámos em "Um Gosto de Mel" uma actualidade insuspeitada — tal como nos fifties, a humanidade parece viver agora um tempo sem rumo e sem valores.

De resto, enquanto grupo, pouco mudou — tal como no trabalho anterior, começámos estes ensaios sem saber onde iríamos acabá-los. É claro que ainda temos um plano bianual para cumprir: produções, itinerância, recepção de outros espectáculos, contratos-programa com o Estado. É claro que gostaríamos de preparar atempadamente a mudança de instalações para outro espaço (será mesmo em Agosto?…) e mais outro a seguir… que espaços serão esses? Quando estarão prontos? Em que termos poderemos utilizá-los? Não sabemos. Para A Escola da Noite, em 2001, em ensaios no meio do estaleiro, já é bom quando se consegue definir o local da próxima estreia.

Obviamente, estas incógnitas deixam a nú a nossa pequenez, a nossa fragilidade de companhia de teatro profissional de província, que continua a navegar à vista ao fim de quase dez anos de trabalho. Dez anos é muito tempo, mas parece às vezes não ser nada.

Tal como acontece com as personagens deste "Um Gosto a Mel", as circunstâncias continuam a ditar a nossa condição de sobreviventes.

Hoje há teatro. Amanhã não sabemos.

A Escola da Noite
in programa do espectáculo. Saiba mais sobre os conteúdos do programa aqui.

Sobre este espectáculo:

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