As primeiras reuniões tendo em vista a criação da companhia tiveram lugar em 1991. Na altura, nada faria
prever a escolha de Coimbra como Capital Nacional do Teatro no ano seguinte. Na sua maior parte oriundos do teatro universitário,
aos fundadores d'A Escola da Noite movia-os apenas a vontade de fazer teatro, em moldes que ultrapassavam o simples âmbito
universitário.
Dez anos depois da falência do último projecto de teatro profissional em Coimbra, a cidade voltava a ter condições para deixar de
ser um dos maiores centros urbanos do país sem uma companhia de teatro profissional em actividade.
Infelizmente, essa lacuna não parecia estar, na altura, no centro das preocupações da Câmara Municipal de Coimbra — passaram quatro
anos antes que a edilidade apoiasse A Escola da Noite.
Valeu-nos, na altura, o apoio de instituições como o Teatro Académico Gil Vicente e o Teatro Avenida de Coimbra, que acolheram espectáculos
da companhia, ou como o TEUC — Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, que nos disponibilizou uma sala administrativa na sua biblioteca,
no quinto piso das Instalações Académicas.
Valeu-nos também a nomeação de Coimbra como Capital Nacional do Teatro em 92. De acordo com o regulamento desta iniciativa, à companhia
residente na Capital do Teatro seria atribuído um financiamento igual ao máximo em vigor nesse ano — o que, perante a inexistência
de qualquer apoio financeiro a nível local, se veio a tornar num factor decisivo, permitindo não só a sobrevivência do projecto
mas também o seu lançamento a um nível de dimensão regional.
Só em 1995 a companhia assinaria, finalmente, um protocolo com a Câmara de Coimbra, mediante o qual passou a dispôr de um espaço provisório
no Pátio da Inquisição (onde se apresentou pela primeira vez em 1996) e de um apoio financeiro anual.
Neste momento, A Escola da Noite assinalou recentemente o seu décimo aniversário. No entanto, apesar do passar dos anos, apesar das mais de
duas dezenas de espectáculos apresentados, continuamos a considerar como verdadeiras as premissas que tornámos públicas aquando da apresentação
da companhia:
A Escola da Noite define-se como companhia em formação, que pretende "fazer caminho caminhando", sem o espartilho de grandiloquentes
postulados estéticos e culturais prévios (como se cada grupo devesse ter uma "filosofia" ou uma "estética" privadas…), que se tornam
obsoletos no fragor dos primeiros embates. Sabe-se o que se quer fazer e como, mas pouco se intui do resultado do confronto
da matéria teatral com o seu público, com a sua crítica, ou dos reflexos do funcionamento da ética do grupo e da prática
artística em cada um dos seus elementos.
(…)
"Fazer um teatro à medida das nossas dúvidas" foi a fórmula que encontrámos para afirmar que não nos limitaremos a reproduzir
fórmulas. Tentaremos que o nosso trabalho reflita, em cada momento, as nossas questões à norma, ao fazer teatral.
(…)
A companhia não se sente investida na missão de formar públicos, mas contribuir, pela sua visão ou interesses teatrais próprios,
para a diversificação do olhar e do espectro de escolha do espectador.
Importante para nós será que o público possa ler o nosso percurso e, nessa base, ir estabelecendo connosco protocolos baseados
no encontro possível das suas necessidades culturais com a nossa
evolução.
(…)
A íntima ligação da prática teatral à investigação implica uma opção estética de risco que a companhia
não enjeita, por considerar que, no interior de uma prática teatral diversificada em todo o país, encontra
aí a vocação desejada.
in dossier
de apresentação d'A Escola da Noite
início de 1992