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O Triunfo do Amor

de Marivaux


estreia em Coimbra, a 22 de Outubro de 1992

Teatro Avenida de Coimbra

total de espectáculos - 20 (Coimbra e Porto)
total de espectadores - 3.816


2ª produção - A Escola da Noite©Outubro1992


Ficha Técnica:
•••Tradução: António Cabrita.
•••Encenação: Rogério de Carvalho.
•••Elenco:
•••••••••Dimas > Carlos Sousa
•••••••••Hermocrates > Fernando Mora Ramos
•••••••••Agis > José Neves
•••••••••Arlequim > José Vaz Simão
•••••••••Leonidas / Focion > Lígia Roque
•••••••••Corina > Sílvia Brito
•••••••••Leontina > Sofia Lobo
•••Cenografia: José Manuel Castanheira.
•••Figurinos: Ana Rosa Assunção.
•••Música: Paulo Vaz de Carvalho.
•••Desenho de luz: Jorge Ribeiro.
•••Direcção de cena: Otelo Lapa.
•••Grafismo: Ana Rosa Assunção.
•••Adereços: Luís Mouro.
•••Sonoplastia: José Balsinha.
•••Execução de cenografia: David Mendes e Carlos Figueiredo.
•••Execução de guarda-roupa: Delfina Teixeira.
•••Cabelos: Paulo Vieira.
•••Fotografia: Susana Paiva.
•••Produção: A Escola da Noite / Bienal Universitária de Coimbra.
•••Produção executiva: António Jorge Dias e Rui Valente.
o triunfo do amor

Marivaux e O Triunfo do Amor
Quatro razões para um projecto de teatro em Coimbra

Estamos, com O Triunfo do Amor, em pleno séc. XVIII em França. Marivaux conhecia um sucesso controverso, como um homem de teatro pode / deve ter.
A Companhia de Actores Italianos adoptara-o e ele ensaiava a adaptação do seu ideário a uma forma que servisse os actores e o seu jogo.
Alguns maître à penser do seu tempo desprezavam-no. Nomes maiores, como Voltaire, outros menores. Quem conhece hoje Crébillon (filho), um dos críticos de Marivaux? Parece nome de cow-boy. E a sua obra Tanzai et Nardané, onde zurzia o romance A Vida de Mariana, do nosso autor? Ouviram falar de Tanzai et Nardané? Nós também não.
Estamos em pleno séc. XVIII, em França. As peças duravam entre 4 representações (fracasso) e 16 (enorme sucesso). O Triunfo do Amor conheceu 6 representações.
Foram precisos quase dois séculos para que o teatro resgatasse a obra de M. (sim, o teatro, os grandes encenadores do teatro contemporâneo como Chéreau, Vilar ou Vitez). Hoje comparam-no a Shakespeare.

1) porque escolher hoje uma peça de M. é um passo em direcção ao público, sem o tornar indigente ou analfabeto.

Em Portugal, no séc. XVIII, por altura de O Triunfo do Amor, Verney criava as condições para que fosse possível a reforma pombalina (1772), a única grande ruptura na casa-forte do saber (saber escolástico, retórico, formalista) que era a Universidade de Coimbra. Defendia-se o método experimental. Procurava-se que a anatomia humana não fosse estudada em carneiros. Apesar dos retrocessos da política da “viradeira”, a reforma deixou frutos imperecíveis. Teremos que redescobrir o Jardim Botânico, o Laboratório de Quimica, os Instrumentos de Física que a Europália desempoeirou para nos apercebermos, hoje, do alcance dessa ruptura. É curioso que o movimento recuperador da Universidade tenha tapado a fenda então aberta, de modo a que esses vestígios físicos nos apareçam ainda agora envolvidos numa certa marginalidade bizarra que os torna inconvertíveis ou relutantes à própria museologia. Bastará lembrar o desprezo a que está submetido o Botânico e o completo encerramento de grande parte da sua área...
No coração do enredo de O Triunfo do Amor a perturbação que o amor (Focion) desencadeia na razão (casa de Hermocrates) é comparável à emoção estética no processo do conhecimento.
O amor é aqui o equivalente da arte, degraus da emoção sem os quais não se completa um conhecimento humanístico.
Hoje não se estuda anatomia humana em cadáveres de carneiros na Universidade de Coimbra. Mas a Arquitectura, já reclamada pelas reformas do séc. XVIII, só agora entra, tímida, no programa de estudos da Faculdade de Ciências (!), o teatro não se ensina, nem a música, nem a pintura, nem a escultura, nem… De todas estas disciplinas não se ensina senão a parte da história. Permanece uma vocação trituradora, duma ruminância retardada, que, mesmo aí, apenas estuda os cadáveres dos criadores décadas depois destes terem partido. Victor Garcia, hoje, é um nome adquirido, mas ainda não se estudou a sua passageira experiência em Coimbra. É apenas um exemplo. A história, para já, acaba em Artaud, em Picasso, em Schönberg, em Pessoa. Três a cinco décadas é o prazo de validade para se digerirem as novas experiências.

2) porque um grupo de teatro não deve alhear-se de uma universidade sem arte.
É possível uma universidade sem arte?

Estamos às portas do séc. XXI, em Coimbra. O jardim invade a casa do filósofo Hermocrates. Cresce a relva sintética pela colunata. O Teatro, na cenografia de José Manuel Castanheira, parece reclamar a necessidade de se fazer um novo apelo à natureza para redescobrir a ciência, à ecologia do saber, aos valores da ética e da moral, à arte, para resolver a “crise da consciência europeia”. Estamos no séc. XVIII, lembram-se? A grande crise tivera “um começo indeterminado dentro do séc. XVII e um fecho também indeterminado dentro do seguinte”, como dissera um autor. A nossa é uma crise súbita e precisa no eclodir, deixando-nos a sensação de que ainda mal assistimos ao seu início.

3) porque nos perdemos frequentemente neste vendaval e deliberámos que o teatro pode ajudar-nos a inventar um sistema comparativo das crises da nossa "consciência europeia".

Num manifesto inicial, A Escola da Noite afirmava: “a companhia não se sente investida na missão de formar públicos, mas contribuir, pela sua visão ou interesses teatrais próprios, para a diversificação do olhar e do espectro de escolha do espectador. Importante para nós será que o público possa ler o nosso percurso e, nessa base, ir estabelecendo connosco protocolos baseados no encontro possível das suas necessidades culturais com a nossa evolução”. Marivaux é um sistema completo de aprendizagem teatral. Gostaríamos de partilhar com o público essa aprendizagem de um clássico. Há enormes buracos na história mental do teatro que o público ficciona, que os actores ficcionam. Técnicas, códigos, linguagens.

4) porque somos uma companhia de teatro em formação.

A Escola da Noite
in programa do espectáculo. Saiba mais sobre os conteúdos do programa aqui.


Sobre este espectáculo:

"Eu acho que fui muito feliz com este elenco, em que se conjuga a experiência e a juventude, com o arrojo de se encenar uma peça como esta. A sensação que tenho neste momento é que foi uma experiência rica, uma experiência que me marcou imenso, mesmo ao nível da companhia (…)"
Rogério de Carvalho em entrevista ao Diário de Coimbra, 24/10/92


"(…) A encenação de Rogério de Carvalho é sem concessões, sem rebuscamentos cénicos (…)"
"(…) O tom geral das interpretações é contido, as marcações a tender para a coreografia" (…) Quanto ao mais — música, luz, figurinos —, tudo se enquadra bem no estilo calmo e sereno do encenador. A pedir um espectador sossegado, disponível, "cool", como aquele jogador de xadrez de que fala Ricardo Reis."

Manuel João Gomes, Público, 29/10/92


"(…) Rogério de Carvalho (…) contou com excelentes jogos cenográficos (José Manuel Castanheira), de guarda-roupa (Ana Rosa Assunção), de luz (Jorge Ribeiro) e musicais (Paulo Vaz de Carvalho). E contou com uma equipa de actores jovens que conseguem uma composição inteligente das personagens. O carácter de homogeneidade que marca o trabalho, sob o ponto de vista da representação, mas também da encenação, ajuda a entender os resultados obtidos. Só muito raramente o trabalho sobre textos de Marivaux consegue explorar a multiplicidade das suas propostas. O espectáculo da Escola da Noite propõe uma leitura relativamente convencional desta peça sem por isso deixar de iluminar o que nela opera a um nível menos evidente."
Carlos Porto, Jornal de Letras, 24/11/92

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