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2 Perdidos Numa Noite Suja

de Plínio Marcos

estreia em Coimbra, a 29 de Outubro de 2004
Oficina Municipal do Teatro

total de espectáculos - 50 em Coimbra (OMT, duas vezes, e Estabelecimento Prisional de Coimbra), Abrunheira, Covilhã, Guarda, Faro, Évora, Braga, Oeiras, Oliveira de Azeméis, Santa Comba Dão, Bragança, Malveira, Vila Nova de Paiva, Portimão, Sines, Barreiro, Póvoa de Varzim e Lousada.
total de espectadores - 2640

32ª produção - A Escola da Noite©Outubro2004


Ficha Técnica:
•••Encenação e versão: Sílvia Brito.
•••Elenco:
••••••••• Paco > Carlos Marques
••••••••• Tonho > Ricardo Correia
•••Espaço cénico: António Jorge.
•••Figurinos: Ana Rosa Assunção.
•••Luz: Rui Simão.
•••Fotografia: Augusto Baptista.
•••Grafismo: Ana Rosa Assunção.
•••Operação de luz e som: Danilo Pinto.
•••Direcção Técnica e de Produção: Rui Valente.
•••Montagem: Alfredo Santos, Elsa Rajado, Carlos Figueiredo, Danilo Pinto e Rui Simão.
•••Promoção e mecenato: Isabel Campante.
•••Venda de espectáculos: Pedro Rodrigues.
2 perdidos numa noite suja

notas de encenação

Da solidão à solidariedade pode ir um grande passo
1. Dois homens trabalham no mesmo sítio, habitam o mesmo espaço e não têm mais ninguém. Estão confinados um ao outro. Quando chegam a casa, à noite, tudo o que querem é estar sozinhos. A presença do outro não conta e, se se faz sentir, não é desejável. Disputam o seu espaço de solidão como se esse fosse o seu bem mais precioso.

2. A solidão de um é ruidosa para o outro, no seu silêncio ou na sua música e extravasa o seu reduto, metamorfoseia-se para mostrar que existe: fala

3. A palavra da solidão eclode, atravessa o espaço como um tiro. O seu grito quer o silêncio mas já não há retorno, palavras pedem palavras. Não muitas, poucas. Repetem-se insistentemente as mesmas, responde-se insistentemente com as mesmas, quase um vício. Porque não se conhecem outras — só a vida ensina as palavras.

4. Palavras de guerra, expelidas brutalmente e repetidas até à exaustão, numa partitura traiçoeira de possibilidades falhadas de comunicação. As palavras novas, portadoras de surpresa, não chegam a confortar, apenas adensam o desencontro, apenas acentuam a perda progressiva do que resta.

5. Não há acordo possível — aqui, só a violência pode ser afecto?

6. Perante o inaceitável que nos rodeia e envolve, a dúvida entre a revolta e a conformidade.

7. Sociais, fazemos compromissos, renunciamos aqui a dar um passo em frente. E encurralados? E sem palavras que nos ajudem? Quando já só queremos repôr o silêncio? Quando o queremos definitivo?

8. O ser solitário não consegue reunir a força necessária para reagir contra o que, organ izado, se lhe apresenta como factor do seu infortúnio individual. Não se aliando a outro para lutar por si e por um terceiro, só lhe resta a aniquilação, a vingan ça ou a morte. É a lei do "salve-se quem puder", "como puder". É a aplicação da imperfeita justiça, a do desespero, a que se faz sozinha, cega. Sobre quem estiver mais à mão.

9. As vozes que plínio trouxe ao teatro não são só as dos seres marginais em tempos de ditadura. São as vozes que, em todos os tempos, continuam abafadas sob a realidade de desigualdades gritantes — são as vozes da geral pobreza humana de meios de subsistência, de acesso à beleza ou de conforto nos afectos que só muito poucos conseguem iludir.

Sílvia Brito
in folheto de apoio ao espectáculo. Saiba mais sobre os conteúdos dos programas aqui.

Sobre este espectáculo:

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